segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Vamos parar de fazer dieta?

Vou postar um texto da jornalista Rosiane Correia de Freitas, uma excelente reflexão acerca do tema dietas, confira.



Esse texto vai ser longo.

Um dia, há algum tempo, resolvi fazer um exercício. Anotei e fui somando tudo que já gastei com a intenção de perder peso. Eu nunca fui uma pessoa realmente empenhada em dietas e outras bruxarias, mas como mulher desde cedo me disseram que eu tinha que ser magra e então botei meu suado dinheiro em diversos tratamentos, comidas, remédios e outras estratégias para deixar de ser gorda.
Já pensou em fazer isso? Vá somando: os remédios, as consultas, aquele monte de comprimido manipulado que custou um absurdo, as mensalidades na academia – que você não queria frequentar, mas que tem aquela aula que promete queimar as calorias da bunda -, o tratamento natureba, a erva milagrosa, o salmão que vai servir de base para uma refeição “nutritiva e com poucas calorias”, o equipamento fantástico que equivale a não sei quantas horas de exercício, o creme que faz as estrias e a celulite desaparecem…
Note as reticências no fim da lista. É porque ela não acaba, né?

Pois bem, cheguei num número. Não vou colocá-lo aqui, mas digo o seguinte: é o suficiente para ter uma poupança (e um pouco de tranquilidade nesses tempos de crise), para ter feito aquela viagem que sempre quis fazer para a Itália, talvez significasse menos dívida no financiamento da minha casa ou poder fazer aquele curso que quero tanto.

E olha que nem coloquei nesse total aí quanto os meus pais gastaram com isso. Porque esse empenho para me fazer ser magra começou cedo, quando ficou claro que minhas coxas eram grossas, meus peitos eram grandes. Acho que não tinha nem 12 anos quando fui parar num consultório médico para “perder peso”.

Vejam bem, eu não era uma criança extremamente gorda. Não. Eu só não era magra. Ganhei bunda e peitos cedo, muito antes da minha primeira menstruação. Não era sedentária. Praticava esportes, andava de bicicleta, corria muito. Aliás, sempre gostei de me mexer. Sabe aquela sensação gostosa quando você está correndo muito rápido e parece que nada vai te parar? Eu adorava isso.

O que havia de errado comigo? Eu não tinha o corpo que, me diziam, era melhor que o meu. Lembro até hoje do dia em que alguém da família apontou para a dobrinha que tenho entre o braço e o peito e disse que aquilo era feio.

Não me entendam mal. Não estou falando daquele excesso de peso que é realmente ruim, porque impede as pessoas de serem saudáveis, de fazerem coisas. Mas não é disso que estou falando. Estou falando de não ter as medidas perfeitas. De ser um pouco maior. De não mostrar os ossos, de ser “fofinha”.

Pois bem, feito o exercício de continhas para descobrir quanto gastei para ser magra, resolvi continuar na lida e somei outra coisa: quanto tempo já gastei nisso. Pare para pensar: as horas na academia, na cozinha fazendo pratos com poucas calorias, no mercado analisando qual produto é mais light…

Já fez essa conta?
Agora pense comigo: qual foi a última vez que você foi almoçar/jantar com as amigas e o papo não foi sobre dieta?
Outro dia eu me peguei numa dessa. Tava num restaurante com duas amigas. Duas mulheres bem-sucedidas, inteligentes, interessantes e pá: de repente a gente estava falando sobre a dieta X que fez não sei quem perder tantos quilos e como uma de nós estava frustrada porque queria perder Y, mas perdeu menos.

Esse papo é onipresente, né? Alguém pede sobremesa e pronto: uma diz que não vai comer nada doce porque já estourou os pontos do dia. A outra pede, mas gasta um tempo justificando: a semana tá ruim, tá de TPM etc etc.

Daí você engravida. Qual é a conversa que você mais ouve? Acertou! Posso contar nos dedos os papos que tive sobre o parto. Mas nem um dia se passou nos sete meses em que as pessoas sabiam que eu estava grávida sem que alguém: me sugerisse uma dieta, me perguntasse quantos quilos eu já tinha ganho, me alertasse para não engordar demais, criticasse algo que eu estivesse comendo.

Estou exagerando? Olha, é só dar uma passadinha nos sites sobre maternidade/filhos e fazer uma pesquisa. Certeza que a maioria das “matérias” é sobre não engordar durante a gravidez, perder peso depois do parto, não tornar o seu filho obeso e voltar a fazer sexo com o marido (um dia ainda escrevo sobre isso).

Mas o que quero dizer com tudo isso?
Tempo é um recurso finito. Entende? Sério. Leia de novo: tempo é um recurso finito.
Agora reflita por um instante. Sacou?

Sabe aquela menina com seus 15/16 anos que está começando a dar os primeiros passos para ser alguém no mundo? Que percebe que gosta de ciência, que curte programar, que lê muito?
Sabe o que custa ser boa em matemática? O que custa passar no vestibular de medicina? Ser fluente num idioma?

Custa tempo. Sim, custa dinheiro também. Mas custa principalmente tempo. Não adianta pagar a melhor escola de inglês, comprar os livros mais caros, ter professor particular se você não investe o seu tempo.

Tempo para errar, para se frustar, para arriscar e, no fim, para conseguir.
Só que aquela guria de 15/16 anos não vai ter que gastar tempo só com o estudo, né? Não, ela tem que fazer aula de body whatever, sessões de tratamento para celulite, gastar meia hora por dia passando creme e contando pontos da dieta.

Tempo é um recurso finito. Cada dia tem uma quantidade fixa de minutos e se você gastou contando calorias, não vai ter esses minutos para ler Shakespeare, estudar geometria analítica ou que seja.
Já sei o que você está pensando: mas eu sempre dei conta de tudo isso. Provavelmente é verdade. A gente dá conta, né?

Só que não é bem assim. Tem uma hora que esse tempo faz falta. Sabe o que separa um pianista mediano de um gênio? Você vai dizer: talento. Tá, sim, tem o talento. Mas vamos considerar duas pessoas igualmente talentosas. O que faz uma atingir seu potencial e a outra não? Tempo.

Qual o custo de “dar conta” das coisas?
Tá, mas tem algo ainda pior nessa história. Algo que tem a ver com tempo, mas também com a nossa percepção do que é importante. Para falar nisso, deixa eu contar uma historinha:
Há pouco mais de um ano eu decidi fazer um aplicativo. Eu, mãe de então um bebê de um ano e meio, jornalista, professora universitária que trabalha pelo menos 40 horas por semana, mulher, dona de casa etc fui aprender a programar para celular.

De lá para cá criei aplicativos para iOS e Android, montei uma empresa, ganhei e perdi sócios, vi minha ideia não dar certo e apostei em outros projetos. Nesse tempo todo sabe quantas pessoas (com exceção do meu marido e de quem trabalhou ou trabalha comigo) se interessaram pelos meus projetos? Nenhuma.

Quase um ano depois de ter começado essa história um amigo, ao saber do aplicativo, me perguntou: como é que eu não sabia disso? Simples, ele nunca tinha me perguntado nada sobre o que eu faço. Você vai pensar: ah, é alguém que não é tão próximo. Bem, olha só, essa é uma pessoa que não sabe dos meus projetos, mas sabe quantos quilos emagreci há alguns anos, quando perdi bastante peso.
Não estou falando: “ah, coitadinha de mim”. Não. Isso aqui é sobre o que é importante. Importante para nós e importante para os outros.

Lembra das amigas no almoço? Pois bem, o que é importante? O fato delas terem projetos bacanas para fazer? Ou a dieta que não deu certo? No entanto, sobre o que conversamos? Com o quê gastamos tempo? Um tempo escasso que raramento podemos usar ouvindo as pessoas com quem nos importamos.

Eu gasto uma parte importante dos meus dias falando sobre o trabalho do meu marido, sobre o meu filho, sobre amigos meus. Falo porque o que eles fazem é importante, porque o que eles fazem muda o mundo. Há quem vá dizer que posso me sentir chateada por ser chamada a falar tanto sobre eles, ou com inveja. Essas pessoas não têm a menor ideia do que é um casamento.

Entendem o problema?

O trabalho de um é importante. Mas o da mulher, não. O peso que ela ganha ou perde é mais.
Tem outra coisa sacana a respeito disso. Fazer dieta é um projeto destinado ao fracasso. Verdade. É o crime perfeito. A pessoa te vende um tratamento/remédio/sei lá o que para emagrecer e que promete milagres. Não estou falando de algo que te ajudará a eliminar um, dois quilos. Não. As promessas são sempre na casa das dezenas.

Claro que nunca dá certo. E de quem é a culpa? Ah, você não leu as letrinhas pequenas, né? Você tinha que ter mantido uma dieta balanceada enquanto usava o produto e fazer exercícios regularmente. E também verificar se não havia nenhum problema de saúde que poderia prejudicar a perda de peso (olha as prioridades: Não se trata de pensar no problema de saúde, mas se ele te impede de perder peso).

Além do dinheiro e do tempo, o que mais você perdeu com isso? A segurança. Porque fazer dieta é embarcar numa experiência que vai fazer você se sentir fracassada o tempo todo. Seja porque não conseguiu emagrecer, ou emagreceu, mas não atingiu a meta (e a gente sempre define metas irreais, né?), ou outra pessoa que fez o mesmo tratamento emagreceu muito mais ou você recuperou uma parte do peso.

Então, de repente, o caso é que você é uma mulher adulta, com educação superior, que é mãe, que cuida da casa, que paga as próprias contas, que é talentosa, que cria os filhos. Mas que se sente um fracasso. Não porque seu projeto profissional, de repente, não deu certo. Ou seu filho chama a babá de mãe. Mas porque você não emagreceu.

O que é importante? O que é realmente importante?
Por que importante é aquilo que ocupa o nosso tempo. Não é mesmo?
Será que não é injusto que nós mulheres tenhamos que investir tanto na aparência? Por que é que não podemos decidir simplesmente que isso não é importante?

Pensei nisso quando li no El País um texto sobre a pesquisadora Mary Beard e as críticas que ela recebeu por sua aparência. Ela é uma daquelas mulheres que não pintam o cabelo para esconder a ação inevitável do tempo. É uma escolha. Não se trata de condenar quem pinta as madeixas, mas sim de alguém que não quer fazer isso.

Mas será que é mesmo uma escolha? Porque, no fim, o que é importante a respeito da Mary Beard? O que ela pensa ou a aparência dela? No entanto, foi por causa dessa aparência que li sobre ela no El País.

Foi quando percebi isso que deixei de fazer dietas e de tentar ser magra. Porque isso simplesmente não é importante para mim, muito embora continua a ser para os outros. Foi na mesma época em que decidi que quero ser mestre do meu próprio tempo.

Coisa de louco, né? Eu quero ser mestre do meu próprio tempo. Normalmente quando falo as pessoas entendem que quero ser empreendedora. Verdade, se por empreendedor se entende alguém que cria as próprias oportunidades.

Mas ser mestre do próprio tempo é mais do que isso. É não ser tragado pelos falsos problemas que inventam para nós. Perder peso é só um deles (mas nos toma um tempão, não é).

Já parou para pensar quantos problemas imaginários inventam para nós depois que viramos mães? Pô, de repente você tem que pensar em tags para docinhos (oi?), roupa mãe e filho, ensaio fotográfico caríssimo com o bebê destruindo um bolo igualmente dispendioso.

Para que tags em docinhos? Docinhos que vão custar um dinheirão e serão destruídos pelas criançada da mesma forma que o brigadeiro da padaria seria.

A tradição das mulheres de sofrerem com problemas imaginários começa cedo, já na maternidade, quando a mãe pega a menina recém nascida, que mal se recuperou o trauma do nascimento e tasca um brinco na orelha dela. Um brinco que pode, um dia, ir parar na boca da criança e virar um risco para a segurança dela. Ou ser perdido.

Brinco para quê? Para saberem que ela é menina? Como se alguém não fosse notar a tonelada de acessórios cor de rosa, a presilha no cabelo e os cristais na chupeta personalizada (todas essas coisas que representam um perigo para o bebê, mas que a menina TEM que ter).

Por que é que a gente não para e pensa no que é REALMENTE importante? Sério, o que é importante?

É perder peso? Não, é se alimentar bem, ter boa saúde, hábitos saudáveis. Não beber ou comer demais. Não usar substâncias que coloquem sua saúde em risco.
É malhar para ter o corpo perfeito para o verão? Ou é se sentir bem como somos. E fazer atividades que nos dão prazer, aliviam o estresse?

É correr para colocar brinco no bebê assim que ele nasce? Ou garantir que mãe e bebê descansem, tenham tempo para se conhecer, para aprender a mamar e para se recuperar do parto?
O que é importante? Como eu me visto? Que peso eu tenho? Se uso maquiagem? Ou o que faço de bom para minha comunidade, minha família e o mundo?

E só nós mulheres, ao invés de “dar conta” das coisas pudéssemos investir nosso tempo nos nossos talentos? Já imaginou quanta coisa boa sairia daí? Quanta gente ia deixar de se sentir mal a respeito de si mesma? Iria sorrir mais para a vida. Ter coragem para fazer algo fantástico?
Já imaginou? Pode ser incrível. Vamos tentar?

Link da matéria -  http://www.bemparana.com.br/maesdobem/vamos-parar-de-fazer-dieta/

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Workshop de Mindfulness em Curitiba


Não faça da cultura do corpo magro a sua vida

Autoestima baixa pode ser um dos gatilhos que levam a busca irreal da magreza
26514slimmingpill-getty
Após tanta polêmica acerca das medicações para perda de peso, uma das medicações mais utilizadas para esse fim voltou a ser liberada em setembro do ano passado. Na época achei bem satisfatória a proibição da mesma, visto que apesar de serem indicadas para o tratamento da obesidade, muitas pessoas faziam o uso sem ter a real necessidade.

Porém, a mesma voltou a ser liberada sob vários argumentos de que ela seria eficaz em conjunto com a mudança na alimentação, com a prática de atividades físicas, novamente esquecendo que os fatores emocionais são os maiores sabotadores de quem sofre com o peso.

A grande questão é a falta de critério ou a facilidade que algumas pessoas têm de conseguir o acesso a essas medicações, usando sem devida orientação e necessidade.

Hoje recebemos a notícia de uma vítima dessas medicações, Carol.  A estudante estava insatisfeita com seu peso e começou a fazer uso dessas medicações, pois não gostava das curvas de seu corpo. Carol veio a falecer em função do uso desses medicamentos, uma vida perdida em prol de uma busca irreal de um corpo magro.

Infelizmente ainda impera em nosso país essa busca alucinada por um corpo seco, uma agressão que muitos cometem para sentirem-se felizes, como se estar bem fosse sinônimo de gordurinhas a menos.
Nosso corpo não é massinha de modelar, ele é de carne, tem uma estrutura óssea, temos a genética, a herança familiar, não podemos brincar com ele como se fosse modelável. Precisamos mudar urgente essa forma de se enxergar e acima de tudo de colocar no corpo a nossa fonte de felicidade e satisfações pessoais.

Conheço mulheres lindas que não se enxergam, desistem de sair de casa, de curtir uma praia com amigos, de irem a um churrasco, pois não se sentem bem dentro das roupas.  Estou falando de mulheres que tem o peso adequado, pessoas que não precisam de medicações, mas muitas se entregam ao desespero em busca do corpo idealizado, mesmo que com isso paguem com sua saúde e até sua vida.

Até quando isso irá acontecer para se tomar consciência de que somos muito mais do que um simples corpo? Somos gente, somos lindas pelo o que temos, pelo o que conquistamos.

Um corpo não me representa, é uma pena que para você essa busca pode ser sua principal meta.