terça-feira, 31 de março de 2015

Medidas preventivas são bem-vindas, mas sem radicalismo.



É preciso cautela quando se tomam medidas preventivas quanto a obesidade infantil

compulsao ifantil
por Luciana Kotaka
Uma matéria publicada essa semana causou um grande frisson nas redes sociais, levando muitas pessoas a questionarem as medidas que estão sendo estudadas em território americano de Porto Rico sobre a possibilidade de multar pais que não consigam fazer seus filhos perderem peso. Na Inglaterra e em diversos estados americanos várias famílias estão recebendo cartas alertando que exames feitos na escola mostram seus filhos muito acima do peso.
São mais de 600 milhões de pessoas, ou 13% da população adulta do mundo, são obesas. A taxa mais que dobrou entre 1980 e 2014, de acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde). O custo estimado disso para a economia global é de US$ 2 trilhões (R$ 5,6 trilhões). Só no Brasil a estimativa realizada em 2014  é que  a obesidade afete 39% das crianças brasileiras.
Fiquei apreensiva com essas medidas que visam multar pais que têm filhos acima do peso, vou explicar o porquê certa de que entenderão os riscos envolvidos nesse tipo de decisão.
Trabalho há anos com obesidade e transtornos alimentares, essas doenças vêm crescendo de forma alarmante, porém o que muitas pessoas não sabem e/ou não têm consciência é que medidas colocadas em prática por muitos pais podem agravar e desencadear sim essas doenças. Claro que existe uma série de disparadores envolvidos na obesidade e nos transtornos alimentares, como bulimia, anorexia e TCAP (Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica), porém as vivências da infância acabam sendo um grande  gatilho emocional que levam pessoas a exagerarem na alimentação.
Isso porque, nós humanos, temos limitações que são normais, pois quem é pai e mãe sabe que criar e educar um filho não é uma tarefa fácil, e mesmo eu, como mãe, enfrento situações que fogem da minha capacidade de mãe e preciso de ajuda e orientação. Desta forma é claro que não acertamos sempre!
A medida que vem sendo estudada em Porto Rico envolve muito mais do que uma simples multa aos pais, me questiono o que esse estado estará oferecendo a essas famílias além da punição. Claro que os pais são responsáveis pela escolha da comida que servem aos seus filhos, essa é uma questão real a ser debatida, porém existe uma situação ainda mais perigosa atrás dessa medida que é como esses pais agirão com os filhos? Terão esses pais palestras de orientação e acompanhamento dessas mudanças?
Essa questão é muito séria, pois recebo em minha clínica muitos pacientes que trazem marcas de épocas que foram tratados de forma desigual em casa, em relação aos irmãos, ou mesmo que eram punidos de forma verbal e física em função do peso apresentado. O inverso também acontece muito;, de pais assustados com a própria história de obesidade ou que valorizam muito o corpo magro a forçarem os filhos a aderirem às  dietas rigorosas e inadequadas para a idade deles.
As consequências da falta de orientação em que se trabalha as dificuldades e as limitações que uma pessoa acima do peso apresenta são sérias, e são marcas que se carrega para toda a vida, não ficam somente na infância. Por isso questiono, pois mesmo no Brasil em que essas medidas não existem já lidamos com esses estragos, imaginem só os pais recebendo multas sem ter uma devida preparação emocional para lidarem com os seus próprios conflitos e dos filhos.
Quando temos em casa um filho acima do peso o adequado é buscar oferecer comidas mais saudáveis sim e para todos da família, favorecer a atividade física que pode ser uma caminhada com o cachorro, andar de bicicleta, até atividades como natação, futebol, dança. Isto sempre realizado dentro de um contexto de equilíbrio, em que onde a criança precisa ter prazer em comer e de se exercitar, sem radicalismo, pois em uma festa infantil há doces, bolos e toda criança tem o direito de ser como as outras.

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